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Entrevista com a Profa. Dra. Maria de Fatima Felix Rosar

Profa. Maria de Fatima, a sua história na luta pela Educação de Qualidade no Maranhão e no Brasil é bastante significativa, com uma atuação incansável. Estudar seus artigos, seus livros nos ajudam a entender muito do que ocorreu e ocorre no país. Também nos ajuda a ter esperança e a desenhar possibilidades. Como você avalia o atual momento da educação no mundo, sobretudo no pós-pandemia e na conjuntura atual? Qual luta precisa ser empreendia urgentemente? O que, como alunos do curso de pedagogia poderemos fazer?

Sem dúvida, termos sobrevivido à pandemia parece ser para todos nós um desafio maior, no sentido de que possamos dedicar o melhor da nossa inteligência e da nossa sensibilidade para a construção de outras perspectivas de sociedade, por meio de práticas de trabalho coletivo, ético, visando à transformação do presente em direção ao futuro para todos os seres humanos, do século XXI, e para todas as pessoas que serão herdeiras da história que construirmos. É preciso que, na qualidade de educadores-militantes, sejamos sinal de contradição e de construção do porvir.

Por que contradição?

Porque é fundamental que estejamos nesta sociedade, analisando criticamente e questionando as formas de sociabilidade e de trabalho, às quais está submetida a maior parte da população brasileira e precisam ser superadas, pois têm seu fundamento na exploração e desigualdade social e, portanto, na injustiça e na impossibilidade de uma democracia real.

Por que sinal do porvir?

Porque a juventude leva sua energia física e espiritual para as lutas sociais necessárias e inadiáveis. Se olharmos para a história do país, desde o período da ditadura empresarial-militar e depois, recentemente, durante a pandemia, quando sofremos a ausência de políticas públicas de um governo antidemocrático, é possível constatar a ação potente e transformadora dos jovens em várias organizações sociais, realizando ações coletivas e solidárias, em favor dos segmentos mais necessitados em nossa sociedade, lamentavelmente, excludente.

Os educadores-militantes por meio de sua prática educativa na escola e fora da escola serão sempre referências luminosas para que a educação e a sociedade brasileira alcancem uma qualidade social avançada. Isto quer dizer que escola e sociedade estão articuladas e podem ser transformadas com a nossa participação efetiva, do ponto de vista pedagógico e político a cada dia, a partir de um compromisso ético com a emancipação dos seres humanos, sem nenhum tipo de discriminação, além do respeito à natureza sob todas as suas formas e espécies.

Você esteve recentemente na Roda de Conversa promovida pelo Histedbr e pelo Curso de Pedagogia da FFI, com diálogos pertinentes sobre a educação brasileira. Nesse evento a Profa. Fabiana de Cássia Rodrigues, convidada especial da Roda, fez reflexões importantes sobre sua última pesquisa e lançou o livro resultante desse trabalho.  Qual a importância para jovens alunos como os do Curso de Pedagogia da FFI participarem de momentos como esse em que pesquisadores mais experientes interagem com discentes que estão ainda na iniciação científica? 

Esses diálogos em roda de conversa com caráter intergeracional são preciosos por vários motivos. Em primeiro lugar, explicitam para os mais jovens que o trabalho educativo é histórico e que precisamos apreender a sua historicidade. Noutras palavras, os jovens educadores em formação precisam compreender que transcorreram séculos, desde a criação das primeiras escolas até os nossos dias, portanto estão assumindo a escolha do magistério, cuja origem é milenar e será sempre necessária, mesmo que se modifiquem as formas de realização da prática pedagógica nas escolas.

Numa breve síntese, recorda-se que a primeira escola foi criada na China no ano 143 a.C, sendo denominada Shishi High School, localizada em Chengdu. Em 597 d.C. surgiu a King´s School Cantebury na Inglaterra. Também nesse país, foi criada a St. Peter´s School em York. No ano 859 d.C. foi criada a Universidade Al Quaraouiyine em Marrocos localizada na cidade de Fez. Posteriormente, na cidade de Bolonha, na Itália, foi criada a Universidade de Bolonha, em 1158. Uma escola pública foi criada na Prússia em 1717, enquanto na França, no ano de 1792, ocorreram debates durante a Revolução Francesa, para implantar uma lei destinada à criação de escolas públicas. A primeira instituição educacional do Brasil foi criada em 1549, pelo Padre Manoel da Nóbrega, em Salvador na Bahia, mas as escolas públicas somente passaram a ser implantadas nos anos 1930, a partir da luta dos educadores que escreveram o Manifesto dos Pioneiros da Educação.

A ideia de fazer essa breve referência à longa história da educação tem aqui o objetivo de chamar a atenção para o fato de que tem atravessado séculos a política de oferta de escolas em número insuficiente para garantir, na maioria dos países periféricos, como o Brasil, a escolarização regular a todas as pessoas, sem exceção, em escolas de qualidade, com a presença de professores que estejam sendo valorizados por optarem pela carreira profissional mais importante que existe: o magistério. Sabemos que ainda não alcançamos a escola democrática porque ainda não construímos, de fato, uma democracia no Brasil, portanto, a luta pela educação pública de qualidade precisa ser retomada e fortalecida, à luz dos conhecimentos produzidos por Paulo Freire, Lisete Arelaro, Dermeval Saviani, Fabiana Rodrigues, que participaram de rodas de conversa na FFI, e tantos outros educadores dedicados às causas da educação e da democracia.

Nesse contexto, os diálogos promovidos pela FFI para seus jovens educadores em formação possibilitam que, a partir dos estudos realizados por pesquisadores e educadores que produzem conhecimento há mais tempo, possam realizar novas e relevantes pesquisas sobre questões atuais e instigantes, às quais ainda não foram contempladas pelas pesquisas na área da História da Educação.

Como foi encontrar os jovens alunos do Curso de Pedagogia nessa oportunidade, sendo que você esteve na origem da implantação desse curso? 

O encontro com esses jovens educadores em formação possibilitou confirmar a ideia de que processos de superação de limites e construção de novas possibilidades de produção de conhecimento não se esgotam, desde que exista uma concepção histórica, crítica e dialética de educação sendo internalizada, ressignificada e praticada, em todas as oportunidades de trabalho pedagógico a se realizar, de forma coletiva e consciente de que os resultados desse trabalho reverberam entre dezenas, centenas de pessoas, ao longo de nossa existência como cidadãos e educadores, portanto tem um sentido permanente  de emancipação ampliada de novas gerações. O compromisso da FFI com a formação de seus jovens pedagogos é notável, por isso precisa continuar.

O Curso de Pedagogia da FFI completará 4 anos. Neste semestre formaremos os 19 primeiros alunos. Quem mensagem você gostaria de compartilhar com esses alunos?

Gostaria de fazer apenas um pedido. Reflitam profundamente sobre o que disse Florestam Fernandes “o objetivo da educação está em inventar e reinventar a civilização sem barbárie.” [1] e, ainda, gravem nas suas mentes e nos seus corações o poema de Bertold Brecht, Nada é impossível de Mudar.

Nós pedimos com insistência:

Não digam nunca isso é natural!

Diante dos acontecimentos de cada dia

Numa época em que reina a confusão.

Em que corre o sangue.

Em que se ordena a desordem,

Em que o arbitrário tem força de lei,

Em que a humanidade se desumaniza,

Não digam nunca isso é natural!


[1] FERNANDES, Florestan. O desafio educacional. São Paulo, Cortez & Autores Associados, 1989, p.264.

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